Batizado Espiritual Salvador
Num dia de Inverno, a Andreia e o Bruno decidiram fazer um baptizado espiritual ao Salvador. Era importante para eles a cerimónia, o ritual, as pessoas, o amor, a simplicidade.
Quando me conheceram depositaram em mim toda a sua confiança, ainda sem saber muito bem o que ia acontecer. A verdade, é que por mais que eu explique, é tudo tão especifico e diferente do que todos já viram, que é mais fácil confiar no coração que lhes disse para me contratarem e seguir em frente.
Como nada é ao acaso e a minha intuição raramente me falha, principalmente no meu trabalho, foi muito bonito perceber todo o envolvimento da família e dos padrinhos e madrinhas nesta celebração.
Batizar em primeira análise é sobretudo nomear a criança, dar-lhe um nome, explicar as intenções desse nome e celebrar. Também gosto de ver o baptismo como um ritual/cerimónia de boas vindas à tribo ( família e amigos do bebé). É tão bonito perceber os testemunhos físicos e emocionais que se passam de geração em geração neste rituais. As palavras que são ditas nestes momentos, nunca mais são repetidas mas que fica cá dentro no coração e essa sensação, esse sentimento que sentimos quando o ouvimos, essa, jamais se esquece. Baptizados são também, no meu entender, momentos de cura e benção. Evocar a família ancestral é fundamental porque também ela abençoa seja através de um gesto, de uma palavra, ou aquele objecto cheio de história e significado que vem ter connosco quando não esperamos. É então o baptizado um bonito momento de encontro entre os vivos e os não vivos, um encontro de todos aqueles que vivem nos nossos corações mesmo que a sua presença não seja física ou falada. É importante também honrá-los tendo consciência e agradecendo a sua vida, a sua caminhada, porque sem eles nenhum de nós estaria ali.
É neste balanço nostálgico entre o passado e o presente, entre os avós, pais, filhos e amigos, que a magia acontece. Normalmente preparo a cerimónia apenas a uma ou duas semanas de acontecer. Chamo sempre a família e os amigos escolhidos pelos pais a participar e a trazer a sua magia.
Neste baptizado em particular, percebi, em conversa com uma das madrinhas, que o Salvador, mais conhecido por Sal, ia ter 6 padrinhos e que cada um deles ia ter uma conexão a um dos 4 elementos - ÁGUA, AR, FOGO e ÁGUA. Neste caso nem foi preciso escolher quem era o quê, as conversas desenrolam-se e assim sem darmos conta, a visão apareceu.
Fez-me muito sentido os padrinhos participarem com os seus elementos, mas fez-me ainda mais sentido serem os pais a baptizá-lo. No fundo, não foram eles os responsáveis pela concepção do filho? Não foram eles os responsáveis pela escolha do nome? Não serão eles a guiá-lo e a encaminhá-lo na sua vida e na sua espiritualidade (seja lá qual ela for)? Há aqui um devolver de legitimidade aos pais neste processo - não há guias espirituais mais poderosos que o amor do pai e da mãe, não há religião mais assertiva que a direção que o pai dá e o colo que que da mãe recebe.
E ao colocar a taça de ouro a escorrer água pela cabeça do filho a mãe, com as mãos das madrinhas no seu ombro em forma de apoio, repete comigo:
- Com esta água abençoada eu te batizo meu filho desejado. Que sejas sempre amoroso e impossível como tens sido desde os teus primeiros suspiros dentro da minha barriga. Amo-te
E peço ao pai e aos padrinhos para fazer o mesmo, e o pai repete comigo:
- Com esta água abençoada, eu te baptizo meu filho, que sejas sempre puro, que me mostres sempre o símbolo da vida que és e do amor incondicional que tenho dentro de mim. Amo-te.
Abençoada intuição e criatividade que me permitem confiar e entregar o processo da concepção da cerimónia a todos a que nela participam. Abençoados todos que nunca me dizem que não e que fazem sempre o melhor que o seu coração lhes permite para tornar estes momentos em pura conexão amorosa e espiritual.
Espaço - Quinta da Salada
Fotografias - Madlyyoursbymonica